Ser ou não ser, eis uma opinião..

Ser ou não ser, eis uma opinião..

22 de maio de 2023

Nada melhor que o contacto com a natureza para retemperar energias. Foi literalmente a meio de uma caminhada pelos Passadiços do Paiva, o que recomendo desde já, que surgiu a ideia de escrever este artigo, como que corolário de um “profundo” processo de reflexão.

Mais do que perceber o que leva as pessoas a serem mais sustentáveis, o presente artigo visa analisar o porquê das pessoas não adotarem um estilo de vida mais responsável. A resposta, no meu entender, reside na educação, mais concretamente na falta dela.

De acordo com um inquérito do Observador Cetelem, realizado no âmbito do Dia Mundial do Ambiente, em 2020, 76% dos portugueses manifesta estar preocupado com o ambiente e com as alterações climáticas. Para a maioria dos inquiridos, a principal preocupação está associada ao impacto que os problemas ambientais terão nas próximas gerações (50%), enquanto 27% está, de igual forma, preocupado com o impacto no presente e no futuro (27%). Por outro lado, 20% dos inquiridos manifesta estar mais preocupado com o presente e com o impacto a curto prazo na sua vida.

Se olharmos para o caso específico da Floresta, o grau de preocupação aumenta. De acordo com um inquérito realizado em 2022 pela Global Scan, sobre o nível de preocupação dos europeus com o ambiente, os portugueses são os que revelam uma preocupação maior com a desflorestação e este tema está à frente na poluição do ar e da água e da escassez de água no topo das preocupações". Sobre esta questão, Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero, uma das organizações envolvidas na sondagem, a par da associação de consumidores Deco, encontra duas explicações para que tal aconteça: "As notícias à escala mundial sobre a Amazónia e as florestas tropicais, em geral, e a destruição da nossa floresta devido aos incêndios, também pelos problemas que encerram em termos de gestão".

Quando questionados sobre quais os principais problemas ambientais, 47% dos portugueses apontam a contaminação em geral como a principal causa, seguida pelo uso de combustíveis fósseis (10%) e aquecimento global (6%). Assim, para 90% dos inquiridos é urgente conservar o meio ambiente.

A questão que se coloca é, “e o que fazem?”

A verdade é que a grande maioria dos portugueses já adotou práticas domésticas como a reciclagem, a redução do desperdício de alimentos ou o consumo de energia.

Mais de 80% dos entrevistados num estudo realizado pela Beko afirmaram separar resíduos (papel e cartão, cristal e vidro, e embalagens e plásticos), caindo apenas esta percentagem para 62% quando se trata da separação de resíduos orgânicos.

Além das práticas mencionadas, o estudo identifica que quase metade dos entrevistados vê a economia de energia (eletricidade, aquecimento ou gás) como uma ação espontânea habitual para cuidar do meio ambiente. A poupança de água lidera as práticas de sustentabilidade com 42% dos inquiridos a afirmar esse hábito, seguida da energia (23%).

Não obstante os números animadores, o que observamos é que os portugueses atuam em função do seu impacto direto no ambiente, como o consumo de água, luz e separação do lixo, mas não no seu impacto indireto na natureza, ou seja, na identificação da origem do produto que adquirem, na procura das políticas ambientais do produtor e da pegada ambiental resultante do processo de produção do que consome. Nunca tão bem se aplicou o provérbio “longe da vista, longe do coração”.

A questão fundamental prende-se com o facto de agirmos, na grande maioria das vezes, em função daquilo que nos é transmitido, ou seja, para aquilo que estamos sensibilizados. Veja-se o nível de preocupação com a Floresta. Neste âmbito, se a retórica educativa e de divulgação é de que o ambiente é algo sempre externo ao ser humano, a relação com o mesmo será sempre igualmente distante, exógena e isolada, traduzindo-se em formatos diferenciados de ação das pessoas em função daquilo que nos está mais próximo ou mais afastado em termos informacionais.

Concomitantemente, o ambiente também é nos transmitido como algo impessoal, o que se traduz numa perceção e/ou noção de risco longínqua, que não afeta o imediato da vida de cada um e, consequentemente é ignorado no curto-prazo.

Neste âmbito, e reiterando o referido inicialmente, a solução reside na educação dos portugueses e na forma como, no contexto desta, se trabalha e transmite a forma como deve ser interpretada a nossa relação com o ambiente e com a natureza, numa lógica de intercâmbio e interdependência mútuas permanentes, sistémicas, síncronas e sinérgicas.

Isto significa educar os jovens, no modo como olham, tratam e respeitam o ambiente, mas também a sociedade e os decisores e responsáveis políticos, para saberem usar ferramentas e interpretar dados que os investigadores produzem.

Em suma, a inclusão nos programas curriculares de educação ambiental já se faz tarde!

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